A disputa comercial
entre China e os Estados Unidos
Carlos Eduardo
Henrique Guilherme
Juan Trindade
Luany Victória
Mayane Santos
Yuri Oliveira
RESUMO
Este artigo tem como objetivo a discussão sobre a disputa de poder comercial entre a China e os Estados Unidos, quando o presidente norte-americano, Donald Trump, fez o primeiro anúncio de tarifas impostas sobre produtos chineses. Sendo feitas algumas tentativas de acordo, mas os rompimentos de tréguas com novos anúncios e ameaças de retaliações frustraram expectativas de solução. Recentemente, o comércio entre os dois países também passa por um grande desiquilíbrio. A globalização serve como uma importante justificativa para mudanças na política econômica e comercial dos EUA em relação à China.
Palavras-chaves: poder comercial, disputa, produtos chineses, economia.
INTRODUÇÃO
A escalada comercial entre os EUA e a China de um lado e as negociações que, mesmo enfraquecidas continuam, de outro, percorrem caminhos paralelos desde que há duas semanas as negociações, onde pareciam destinadas em direção a um acordo, começaram a colapsar. Trump acabou colocando em vigor o aumento que eleva de 10 a 25% as tarifas sobre os 200 bilhões de dólares de produtos chineses importados pelos Estados Unidos. É uma medida com a qual ele já havia ameaçado, mas que tinha deixado em suspenso após seu encontro com Xi Jinping na Argentina no contexto da última cúpula do G-20 em novembro de 2018. Trump agora ameaça impor o restante 300 bilhões de dólares de importações de origem chinesa com o que, se cumpridas, tarifariam o total de compras originadas no gigante asiático. Por sua vez, a China respondeu anunciando que aumentará as taxações vigentes de 10% para 20 ou 25% sobre produtos importados dos Estados Unidos no valor de 60 bilhões de dólares, que cobrem uma ampla gama, de alimentos a joias. No campo das tarifas comerciais, a China tem um poder de fogo significativamente menor porque suas importações dos Estados Unidos são muito menores do que suas exportações.
DESENVOLVIMENTO
Em 1785, um navio
mercante vindo de Guangzhou, na China, atolou na costa de Baltimore, nos
Estados Unidos. Três marinheiros chineses desembarcaram e desapareceram,
possivelmente foram mortos. Em 1821, um navio que percorria o sentido
contrário, vindo de Baltimore e ancorado em Guangzhou, provocou um incidente
diplomático: as autoridades chinesas interromperam qualquer comércio com
americanos até que fosse apresentado o culpado por assassinar uma vendedora
chinesa que circulava entre as embarcações. Foi preciso que um membro da
tripulação, um italiano chamado Francesco Terranova, fosse executado, para que
o intercâmbio pudesse ser retomado. Em 1885, um grupo de moradores de
Rock Springs, no estado de Wyoming, atacou mineradores chineses que viviam na
região. Morreram 28 pessoas. A ação desencadeou, em dezenas de cidades, uma
onda de agressões contra chineses que, desde 1849, com o início da febre do
ouro na Califórnia, vinham desembarcando nos Estados Unidos até o fim da década
de 1850, mais de 100 mil moradores do país asiático se mudariam para o oeste
americano. Em 1905, os comerciantes e moradores de Xangai e Pequim iniciaram um
boicote contra todo tipo de produto americano, alegando que eles feriam a
autonomia dos chineses. Em 1922, o mesmo espírito nacionalista desencadeou um
ataque em massa contra centros missionários ocidentais, a maioria deles
fundados por religiosos americanos, que tinham começado a chegar ao país
asiático quase um século antes, a partir de 1830. Essas histórias exemplificam
o quanto a relação entre Estados Unidos e China é tensa, desde que tiveram
início os primeiros contatos, na década de 1780. A atual guerra de tarifas,
iniciada em 2018 e agravada nas últimas semanas, é apenas mais um momento de
uma longa história de disputas por espaço. Os desentendimentos se explicam pela
trajetória das duas nações: foi num momento de decadência da China que os
Estados Unidos se impuseram como superpotência.
Mas os chineses
ainda não podem ser considerados uma superpotência porque sua influência
diplomática, militar e cultural fora da Ásia é relativamente pequena. O
investimento vai fortalecer a influência da China, mas sua força militar ainda
não é comparável à americana. Apesar de ter multiplicado o investimento na
área, o país ainda tem poucos postos de apoio no exterior. Enquanto isso, os
Estados Unidos sustentam 800 bases em 70 diferentes países e dispõem de
orçamento de US$ 598 bilhões para as Forças Armadas, contra US$ 176 bilhões dos
chineses.
Em 2017, as
exportações dos EUA para China contabilizavam apenas US$ 130,37 bilhões de
dólares, enquanto as importações de produtos chineses somavam US$ 505,6
bilhões, causando um deficit de US$ 375,23 bilhões para os EUA, o que desagradou profundamente
Trump e líderes do governo. A taxa de crescimento potencial dos EUA caiu
substancialmente no século 21 após um declínio gradual nas décadas anteriores.
A queda na taxa de crescimento econômico dos EUA veio acompanhada de aumento de
desigualdade, conflitos étnicos, problemas migratórios e recessão estrutural
nos chamados “cinturões da ferrugem”. O governo dos EUA está sob pressão para
adotar medidas para reverter essa tendência de enfraquecimento do crescimento
econômico. Como a desaceleração do crescimento estadunidense ocorreu em um
período onde houve aumento da globalização e cada vez mais dependência
econômica com outros países, particularmente com a China, fatores externos
podem ser comumente vistos como as principais causas desses problemas. Junto
com o rápido crescimento econômico da China (e de outros países emergentes), a
globalização serve como uma importante justificativa para mudanças na política
econômica e comercial dos EUA em relação à China.
Não somente, os
EUA têm amplas críticas ao sistema econômico chinês e considera suas práticas
desleais à competitividade internacional, argumentando que a China não respeita
as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), danificando o sistema
global de comércio e o prejudicando o crescimento de novas indústrias nos EUA e
na Europa. O cenário institucional específico da economia chinesa pode ser
facilmente interpretado como um dos principais fatores que causam o
desequilíbrio comercial e outros problemas enfrentados pela economia dos EUA. A
China tem como exemplo uma politica industrial adotada que é criticada é o
projeto Made in China 2025, que promoveria o desenvolvimento da indústria de
alta tecnologia chinesa e restringindo investimento direto de empresas
estrangeiras e suas tecnologias, serviços e produtos, segundo o governo dos
EUA. Na visão americana o objetivo chinês é retirar de cena os “líderes
industriais globais”, particularmente as empresas americanas. Dessa forma a
China poderia alcançar a dominância do mercado global. Em janeiro de 2016, em
uma reunião com o conselho editorial do jornal The New York Times, Trump
afirmou que taxaria as importações chinesas para os EUA em 45 por cento. Após ser eleito, fez a
promessa em colocar os Estados Unidos em primeiro lugar e renegociar acordos
bilaterais de comércio justos que tragam empregos e a indústria de volta para a
América, se mostrando particularmente preocupado com as relações econômicas
entre China e Estados Unidos. Porém, além de não implementar essas medidas
imediatamente após assumir a presidência, a liberação de relatórios em 2017 por
parte do escritório do representante de comércio dos Estados Unidos, relatando
uma “nova abordagem” para a política de comércio estadunidense, sinalizou uma
mudança na direção da política comercial dos Estados Unidos, colocando a China
como o alvo mais importante. O presidente chinês realizou uma visita ao
presidente americano Trump no início de 2017, e foi anunciado o início de um período de negociações que
duraria 100 dias sob uma nova plataforma de diálogo, com o objetivo de reduzir
o desequilíbrio do comércio bilateral. Esse período de diálogos marcou um
momento de estabilidade e cooperação entre os países.
Em 22 de março de 2018, Trump assinou um memorando
anunciando os resultados da investigação da Seção 301 sobre a China e
instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) a aplicar
tarifas de US$ 50 bilhões em produtos chineses. Em um comunicado oficial, o presidente afirmou que as tarifas
eram “uma resposta às práticas comerciais desleais da China ao longo dos anos”,
incluindo o roubo de propriedade intelectual norte-americana. Em 2 de abril, o
Ministério do Comércio da China, em retaliação, impôs tarifas sobre 128
produtos norte-americanos, incluindo sucatas de alumínio, aviões, automóveis,
produtos suínos e soja (com tarifas de 25 por cento), além de frutas, nozes e
tubos de aço (de 15 por cento) no valor total de US$ 3 bilhões.
O presidente americano negou que a disputa fosse uma
guerra comercial, sendo que o próprio
declarou em uma das suas redes sociais em abril de 2018 que “a guerra foi
perdida há muitos anos pelas pessoas tolas ou incompetentes que representavam
os EUA”, acrescentando que “agora temos um deficit
comercial de US$ 500 bilhões por ano, com roubo de propriedade intelectual de
outros US$ 300 bilhões. Não podemos deixar isso continuar.”O secretário de
Comércio dos EUA, Wilbur Ross, declarou que as tarifas chinesas planejadas
representavam apenas 0,3 por cento do produto interno bruto norte-americano.
O final de 2018 e início de 2019 foi marcado por progresso
nas negociações. Em dezembro Xi Jinping e Trump anunciam que engajarão em
negociações intensivas por 90 dias. Em fevereiro Trump divulga que o aumento de
tarifas seria suspendido devido a evoluções nas negociações. Porém em maio de
2019 a administração Trump anunciou formalmente sua intenção de aumentar as
tarifas em US$ 200 bilhões de importações chinesas de 10% para 25% a partir de
10 de maio. Anteriormente, a Reuters tinha informado que a China recuou em quase
todos os aspectos de um possível pacto comercial em negociação entre EUA e
China. Após o aumento das tarifas de importação de 10% para 25%, autorizado por
Trump, sobre os produtos chineses, em maio de 2019, os próprios americanos
observaram que as tarifas maiores aumentaram o custo de vida nos EUA devido à
alta demanda dos produtos provenientes da China. Ratificando essa consequência,
a multinacional americana Walmart afirmou que essas novas tarifas de importação
levariam a preços mais altos em uma ampla variedade de bens de consumo. Grupos
de comércio varejista alertam que preços mais altos serão a norma, já que a
China forneceu cerca de 41% de todo o vestuário, 72% de todo calçado e 84% de
todos os artigos de viagem importados para os Estados Unidos em 2017.
As
tarifas de Trump também sobrecarregam os produtores americanos, aumentando o
custo de insumos e suprimentos da China. A maior parte da importação dos EUA em
relação à China é originada dos bens intermediários e equipamentos de capital,
tais produtos são primordiais para fábricas e oficinas americanas. Sendo assim,
a elevação dos custos desses suprimentos acaba prejudicando a competitividade
das próprias empresas americanas, reduzindo as vendas tanto no mercado interno
como externo. Nesse sentido, além desses desdobramentos para os
americanos, a Guerra Comercial também gerou algumas consequências para a China.
Considerando as ambições chinesas, principalmente em relação à sua expansão
global, com a “Belt and Road Initiative”, as restrições orçamentárias da China
como resultado da Guerra Comercial podem forçar os líderes chineses a repensar
se os projetos de cinturão e estradas estão indo além do projeto original.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com a guerra comercial entre China e EUA, acabou
ocasionando o aumento de impostos em produtos transportados para os EUA,
aumentando o custo de vida tanto para os americanos, quanto para os chineses. A
guerra também gerou algumas consequências para a China. Considerando as
ambições chinesas, principalmente em relação à sua expansão global, com a “Belt
and Road Initiative”,e afetando também a multinacional chinesa, a Huawei. Uma
das estratégias americanas na Guerra Comercial foi justamente decisão tomada
por Trump em relação à inclusão da Huawei na lista de empresas proibidas de
comprar de fornecedores americanos.
REFERÊNCIAS
CORDEIRO, Tiago. A longa história por trás da guerra
comercial entre Estados Unidos e China. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/a-longa-historia-por-tras-da-guerra-comercial-entre-estados-unidos-e-china/ > Acesso em: 19 outubro de
2019.
CAUTI, Carlo.
Entenda a guerra comercial entre EUA – China em 5 pontos. Disponível em:
<
https://www.sunoresearch.com.br/noticias/entenda-guerra-comercial-eua-china-brasil/> Acesso em: 18 outubro de 2019.
TREVIZAN, Karina. Guerra comercial: entenda as tensões
entre China e EUA e as incertezas para a economia mundial. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/08/16/guerra-comercial-entenda-a-piora-das-tensoes-entre-china-e-eua-e-as-incertezas-para-a-economia-mundial.ghtml> Acesso em: 19 outubro de
2019.
SEM AUTOR. Disputa comercial entre China e Estados Unidos
em 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Disputa_comercial_entre_China_e_Estados_Unidos_em_2018 > Acesso em: 20 outubro de
2019.
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